sábado, 10 de maio de 2014

Memórias de um fidalgo vicentino (registo de muito interessantes produções da autoria de não menos interessantes alunos)

Memórias do fidalgo D. Anrique

A mata do Buçaco, uma de muitas nos meus tempos de caçadas enquanto ainda era vivo. Muitas aves eu caçava, mas isso agora é apenas uma recordação.
Nesses dias, em que sendo um grande e majestoso fidalgo de solar, acordava e esperava pelo pajenzito menor e impuro que me vestia e que, tal como meu pai me ensinara, obrigava a venerar-me constantemente.
Em todos esses dias, após o pequeno-almoço cortejava a minha mulher, mas só pelo dever e para que quando morresse rezasse por mim de modo a ir para o paraíso, algo inútil constato agora. O meu grande amor era só um. A bela e única, que só para a ver prometia mais meio toucinho ao criadito tolo, que tão reles era que caía no mesmo truque vezes e vezes, mas tal como minha mulher, assim que desapareci, seu falso amor desapareceu também, mas tendo em conta que cada nobre, nessa altura e ainda nos dias de hoje, tem duas e três amantes, não me posso espantar. E minha mulher que me fora destinada, favorecendo um de muitos negócios feitos assim, era claro que esperava minha morte, a fim de poder viver dos inúmeros privilégios que detinha.
Agora só me restam os dias de caça na mata do Buçaco. Havia uma árvore, a árvore da sorte, lhe chamava. Aí encontrava sempre uma grande perdiz como que me esperando. E assim, com um enorme triunfo, regressava ao solar após a passagem pelas ruas empestadas daquela gente similar aos meus achados da caça em que o seu único propósito é o de sobreviver numa vida de imundice e tolice.
Oh, belos tempos! Dias inteiros a comer suculentos javalis, a beber o vinho do Douro e a ouvir os trovadores, outros tolos.
Era a rotina de uma vida que agora já vai longe e que tendo acabado feliz, se segue de uma vida de sofrimento, tal como a das ratazanas tolas e imundas das ruas do mercado de Coimbra.
André Pereira, 9.º C


As minhas memórias

Lembro-me de estar sentado na minha cadeira de espaldas. Alguém sussurrou ao meu ouvido ”Meu senhor, vinde, que é importante”. Importante?! Mas fui. Estava um grupo de camponeses a gritar à porta do meu solar. “Queremos falar com o fidalgo!” Estavam todos em magote para me dizerem que este ano não iria haver produção suficiente. Eu fiquei para morrer! Como seria possível? Então, resolvi que deveria ir comprar alimentos ao condado vizinho, para resolver o problema. Situação resolvida.
No dia seguinte…
O vento assobiava e as árvores abanavam. Eram castanheiros, com a castanha pronta a apanhar, pois estávamos em novembro. Parece que foi ontem, mas foi há mais de vinte e seis anos, três meses, dois dias, oito horas, quinze minutos e doze segundos.
Até agora, eu pareço ser muito bonzinho, mas enganam-se! Eu sou horrível! Por causa de mim morreram mais de trezentas pessoas porque eu disse serem conspiradoras contra a coroa. Os impostos eram altíssimos e eu ainda os aumentei mais. Todos os meus bens estavam bordados a ouro. A minha peruca também, por isso não a podia usar.E assim andava com os piolhinhos todos à mostra. Os meus criados tinham de andar sempre vergados, para não me olharem nos olhos e para não irem contra os candeeiros a velas.
Assim ficaram a conhecer-me melhor, mas não me apresentei. Denomino-me D. Anrique, mas é Excelentíssimo Senhor Fidalgo D.Anrique para vocês.

Fabricado por:
Inês Alves N.º14
Jorge Valentim N.º18
9.ºB

Já não existem muitas memórias e as que tenho não saberei se são as melhores ou as piores.
As mais recentes lembranças são de estar a passear pela casa com alguns criados a fazerem-me companhia, também de me sentar numa cadeira de espaldas e tragar um remédio para as dores. A minha mulher, de cabelo ruivo e pele pálida, a perguntar-me se não seria preciso chamar um médico, eu a agitar a cabeça de um lado para o outro, a pensar que só precisava de ver uma amiga, dama engraçada, e uma das mais esbeltas que já vi. Ao vê-la lembrei-me das memórias de quando supostamente, para a minha mulher, ia em passeios, mas parava em casa dessa amiga, que era como a minha segunda casa.
Recordo-me também de que, quando falavam para mim, inclinavam-se sempre primeiro e nunca olhavam para os meus olhos, pois sou um fidalgo, um dos mais ricos fidalgos; agora quando penso ser da nobreza julgo ser algo maçador, porque não podemos ir sozinhos a lado nenhum, apesar de por vezes necessitarmos de estar sós, mas por outro lado até é bastante agradável, pois posso comprar tudo o que quero. Além disso, a nobreza é a classe social com maior valor não só em dinheiro, mas também em estatuto. É difícil lidar com quem nos rodeia, principalmente se forem criados desajeitados, característica muito comum, também é difícil lidar com as mulheres, porque todas me querem e eu quero tudo. Eu sou O fidalgo D.Anrique e tenho tudo o que quero. Eu quero, posso e mando.

Ana Martins 9.ºB N.º2
Maria Carreira 9.ºB N.º20